
Valor real x valor cobrado
- Posted by samueleidam
- On setembro 14, 2015
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Pegando embalo do primeiro texto – o qual conclui com uma frase meio solta “… o projeto poderá ter maior valor associado”, vou falar um pouco sobre o que eu entendo como “valor” no design estratégico.
O que é exatamente o design estratégico?
A definição desse termo não é para designar uma área do design, mas para refletir uma forma de planejar de forma mais inteligente todo o projeto e seu impacto para a empresa e a sociedade. Imaginemos que um cliente solicita uma nova logo. Um designer pode entregar a logo solicitada e fim. Se essa mesma proposta é feita para algum estrategista de qualquer área, provavelmente a primeira questão levantada seria: “qual problema a alteração de logo irá trazer para a empresa e/ou quanto aumentará o lucro?”. Após isso seriam estudadas inúmeras possibilidades de soluções para os problemas levantados e o valor provavelmente seria mais alto que o proposto pelo designer para cumprir a tarefa proposta. O design estratégico é, em parte, a junção dos dois posicionamentos – reflexão diante do problema e execução (calculada).
Realizar um projeto de design com foco estratégico é a melhor forma de evitar erros em investimentos (principalmente em meio à crise e constantes cortes) – e essa estratégia muitas vezes implica em adiar a parte visual do projeto e reestruturar outras partes da imagem da marca. E sim, isso ainda é design. Indo além da estética de uma proposta bacana, o design estratégico se apresenta como uma solução (aquela ideia que aprendemos na graduação de que o design deve resolver algum problema para ser de fato design). O design tem também caráter estético, mas deve estar alinhado a justificativas e ao planejamento do todo.
Isso é lindo, mas quanto custa?
A primeira barreira que existe aqui é, justamente, a proposta orçamentária. Um designer cobra um determinado valor para fazer o que foi pedido pela empresa, enquanto um designer estrategista propõe um valor, digamos, 5 vezes maior. Analisando os dois orçamentos teremos apenas preços – e escolhe-se o mais barato. Se contextualizarmos as propostas começam a surgir as diferenças de valores.
Um projeto estratégico pode mudar todo o posicionamento de uma empresa, enquanto uma proposta meramente estética pode não gerar o impacto pretendido, por ser visto apenas como uma nova “ilustração” da marca – mas sempre existirão casos em que essa opção resolve de fato os problemas.
Como designer estrategista, o profissional tem que entender não só das teorias e práticas do design, mas também entender o mecanismo dos negócios. Claro que é inviável um único profissional saber muito sobre tudo, mas conhecimentos básicos irão guiar as estratégicas, que depois serão complementadas pela experiência. Para reduzir esse caminho de aprendizagem é sempre válido falar com empresários e diretores para entender como é o processo de investimento, qual o prazo esperado para retorno, quais áreas são mais (ou menos) investidas e entender os motivos disso. Esse aprendizado vai guiar na elaboração do projeto, afim de ter resultados mais assertivos – o foco do design estratégico é um posicionamento totalmente alinhado com a marca, mas sem esquecer da estética (que é fundamental também).
Sobre os tais valores
Não é novidade para profissionais criativos a disputa por valores orçamentários, mas cobrar pelo design estratégico e entregar apenas um elemento estético é uma falta de consideração pelo dinheiro do cliente. É fácil encontrar, por exemplo, escritórios que oferecem o serviço de identidade visual com o rótulo de “branding”. Identidade visual sem uma estratégia de posicionamento não é branding (depois escreverei um pouco sobre esse tema).
Mas qual o motivo de falar isso agora? Acho justo apresentar essa diferença entre projetos para indicar onde se pode entregar mais e cobrar o valor proporcional a esse acréscimo. Para esclarecer a ideia: se o projeto completo de design está alinhado a estratégia de posicionamento, ele levará mais tempo e mais recursos para ser concluído. Se for entregue só o projeto completo de design, ele deverá custar menos. Se reduzir ainda mais o trabalho e a entrega final for apenas a logo e o cartão de visitas, deverá custar menos que o projeto completo. Isso pode parecer primário, mas é aqui que está a grande questão.
O que será feito neste projeto é:
Quando apresentamos um orçamento, essas variações de solução para o problema do cliente devem ser medidas e expostas de maneira direta. Se não apresentarmos a ideia de que haverá uma estratégia por trás do projeto, ou então se não indicarmos as horas de estudos e pesquisas que teremos, o cliente não entenderá a diferença entre a proposta feita pelo profissional com menor valor e o seu projeto que inclui a estratégia de posicionamento. Deixar claro que a proposta será de um nível de complexidade alto e explicar o orçamento já dará uma grande vantagem competitiva – e claro, indicar valores reais e sem abusos. Sempre pense na empresa. Não afim de dar descontos e deixar tudo “baratinho”, mas valorizar o dinheiro do investimento que será feito, e entregar o melhor sempre.
Além disso, não prometa o que não alcançará no projeto. Falar que o design salvará a empresa e o resultado não “salvar” de fato, é como se uma ambulância fosse chamada ao local do acidente e só ficasse dando voltas na quadra. A ambulância está com o ferido e está andando, mas em círculos.