
O design e o ócio
- Posted by samueleidam
- On março 10, 2021
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Numa era de cobranças por resultados instantâneos o ócio é chamado de procrastinação e descomprometimento. Será que devemos ignorá-lo e simplesmente aceitar o trabalho sem pausas, ou será que isso compromete nossos resultados?
Essa é uma das perguntas que mais ressurge na minha cabeça confusa de designer. Sempre fico pensando em como demonstrar que os meus momentos de “distração” são, na verdade, ferramentas do meu trabalho – e que tornam ele menos exaustivo mentalmente. Pensando nisso, fui atrás de mais informações a respeito. Claro que não há uma receita para ser criativo, com ideias inovadoras surgindo a cada minuto, mas existem processos bastante difundidos que auxiliam no trabalho nosso de cada dia e que incluem pausas estratégicas, as quais podemos chamar de ócio.
O chamado Ócio Criativo foi pensado pelo professor e sociólogo Domenico de Masi, unindo estudo e lazer na era pós industrial. De acordo com ele, sentimentos como alegria e satisfação aumentam a criatividade e desempenho no trabalho. Talvez esteja aqui a explicação de tantas empresas adicionarem diversão e entretenimento à rotina dos colaboradores, afim de ter profissionais mais envolvidos e com maior desempenho nas tarefas.
Ainda sobre o conceito de Domenico, quando trabalhamos com o que amamos não diferimos o que é trabalho e o que é diversão, já que ambos dão prazer. Ao meu ver, o ócio complementa essa dualidade afim de reduzir o esgotamento físico/mental, potencializando os resultados. O ócio não é uma pausa vazia, mas em boa parte é organização e esclarecimento das ideias e soluções, além de respiração profunda e desligamento temporário dos problemas daquele momento, podendo dar espaço a novos problemas de outras áreas da vida ou então só um café prolongado.
Costumo dizer que tudo inspira em um momento de criação ou solução de um problema, pois são nessas pausas que pensamos mais friamente nas questões complexas. Se partirmos da ideia de que as pausas são apenas procrastinação ignoramos o ócio como parte do processo, que inclusive deve ser contabilizado no prazo do processo. A importância disso na criatividade vai ficando mais clara conforme pensamos em quão bom é parar para respirar e se desligar de um problema por alguns instantes, dando um novo folego para encarar os desafios.
Ócio não é preguiça. Ócio é uma atividade fundamental de quem pensa.
“Com trabalho, estudo e diversão, construiremos nossa identidade, não mais pelo que temos, mas através do que sabemos.” Domenico de Masi